Dotado de prodigiosa versatilidade, dominava todas as manifestações da poesia, desde a cândida melancolia do lirismo à impudica desfaçatez do erotismo. Deve notar-se que, na maioria dos seus poemas, flutua um ambiente funesto, onde a morte constitui o tema central. Parece ter havido no poeta o constante pressentimento dos breves anos que iria viver. Por estranho paradoxo e para mais realçar a elasticidade dos seus recursos, foi ele, o poeta dos versos sombrios e cinzentos, quem introduziu o humorismo na poesia brasileira. A irreverente ironia de alguns dos seus poemas chega a fazer duvidar que tivessem saído da pena desesperada que compôs os outros. Álvares de Azevedo é a patrono da Cadeira de nº 2 da Academia Brasileira de Letras.
É interessante notar que todos os seus trabalhos escritos só foram publicados após a morte do autor. Algumas das obras de Álvares de Azevedo são as seguintes: Poesia: Obras I, Lira dos Vinte Anos (1853), Poema do Frade, além de diversas poesias escritas (Dinheiro, Imitação, Poemas malditos, entre outros); Prosa: O Livro de Fra Gondicário, Cartas, Obras II, e vários ensaios (George Sand, Literatura e Civilização em Portugal, Lucano, Jacques Rolla), Noite na Taverna (1855); Drama: Macário.
Na atualidade, algumas dissertações são elaboradas em torno das obras de Álvares de Azevedo: O Belo e o Disforme (Cilaine Alves Cunha), Entusiasmo indianista e ironia byroniana (tese de Doutorado, USP) e O poeta leitor. Um estudo das epígrafes hugoanas em Álvares de Azevedo (Maria C. R. Alves).
Analisando sua obra no geral, percebemos a linguagem que expressa seus estados de espírito, a vida boêmia, a busca pelo amor e pela mulher, a fuga da realidade, o vício, a noite, entre outros aspectos. Sua poesia tem muitas das características do ultra-romantismo, o que dá ao autor destaque entre os autores do movimento literário. Na sua principal obra – Lira dos vinte anos –, vemos adolescente sentimental e ingênuo; por outro lado, ainda vemos uma face irônica, crítica à realidade de seus dias, irreverente, fúnebre, e, algumas vezes, orgíaca. Ainda também nessa obra, vemos a mulher “inatingível”, que o eu lírico não ousa tocá-la.
Podemos ver também um exemplo dos sentimentos do autor citados acima, na obra poética Lembranças de morrer:
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida
Na sombra de uma cruz e escrevam nela:
– “Foi poeta, sonhou e amou na vida”
Álvares de Azevedo tinha uma forte ligação com sua mãe, e se preocupava com ela e seu sofrimento. Isso fica evidente num trecho desse mesmo poema: Não derramem por mim nem uma lágrima... E ti a minha mãe, pobre coitada/ Que por minha tristeza se definhas.
Sobre a morte de seu irmão Inácio, veja as expressões no poema O Anjinho:
"Não chorem! lembro-me ainda
Como a criança era linda
No frescor da facezinha!
Com seus lábios azulados,
Com os seus olhos vidrados
Como de morta andorinha!"
Alguns dias antes de morrer, como que um pressentimento do autor, vejamos como ele se expressa diante da situação, no poema Se eu morresse amanhã:
"Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!"
Alguns autores dão sua parcela de contribuição a tecer comentários sobre a obra e a genialidade de Álvares de Azevedo, como no caso de Antônio Candido: temos um poeta pleno em fé na poesia e no amor, afirmando serem espontâneos os seus cantos, fundados nos mistérios de seu amor e solidão <...>” Ele almeja um mundo visionário e platônico”.
Fonte: http://pt.shvoong.com/books/romance/259611-%C3%A1lvares-azevedo/
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